quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Arte na Raia



Exposição de artes plásticas a levar a efeito pela Galeria Vieira Portuense, no Ecomuseu de Barroso - Espaço Padre Fontes, com inauguração pelas 16horas do dia 1 de Outubro, patente até 2 de Dezembro.

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Desde sempre que, indiferentes à linha da fronteira, as gentes da raia se entenderam em seus negócios, em suas vivências, em suas alegrias e em suas dores.
Não vão 150 anos que os limites raianos eram feitos por um território de gente independente, o “Couto Misto” atravessado pelo “caminho privilegiado” que unia as terras de Santiago e de Meaus às de Tourém, passando por Rubiás. Esta república, independente desde a noite dos tempos, prolongava-se para a banda de Chaves pelos povos promíscuos que hoje se reúnem nos lugares de Soutelinho, Cambelo e Lamas de Arcos, todos no Vale do Tâmega!
Num e noutro sítio a lei era feita pelos da terra, até que em 1868 entrou em vigor o tratado de Lisboa que a uns fez espanhóis e a outros portugueses.
Mas isso foi já num tempo em que estas terras do interior, à imagem de outros interiores, caíram em isolamentos, por escassez de acessibilidades e de vontades políticas, emigrando “a salto”, os menos conformados, para as américas, muito antes de descobrirem as rotas dos “bidonvilles” franceses.
Ficaram os funcionários públicos, os lavradores mais abastados, a batata de semente, a raça barrosã e o contrabando.
Sem gente, desertificaram-se as aldeias, algumas até à morte - sirva de exemplo a Rousia mártir, abandonada desde as guerras da “Restauração”!
Da luta pela sobrevivência das gentes do Barroso são testemunho, entre outras, as obras “Planalto em Chamas”, “Ao Longo da Fronteira”, “Contos de Gostofrio” e “O Lobo Guerrilheiro”, que para a eternidade nos deixou Bento da Cruz, cuja memória nos trouxe a Montalegre há algum tempo, em companhia de alguns bons amigos.
Nessa oportunidade, chegamos à fala com a Câmara Municipal, ficando acertado um evento cultural que trouxesse ao Eco-Museu de Barroso as artes de pintura, escultura e poesia, de artistas de cá e de lá, aquém e além-fronteira, em prol de mais um testemunho da vitalidade do sentimento mátrio, sempre patente entre os povos da antiga Suévia, união que os romanos haviam construído no séc.II, sob a acção trituradora dos exércitos de Décimo Júnio Bruto, o Galaico.
O local não podia ter melhor significado: “Espaço Padre Fontes”!
Com efeito, o “risorgimento” de Montalegre não pode ser desligado da acção deste missionário do espirito popular, das suas tradições e das suas crenças, que fez desta terra destino eleito em cada dia 13 que calhe a uma sexta-feira, ou no começo de Setembro para o já tradicional congresso da medicina popular!
Hoje, Montalegre está prenhe de realizações e cresce a olhos vistos. Oxalá que, com a ajuda do deus Larouco, se venha a tornar, também, porto de abrigo das artes plásticas sem fronteiras, indo desse modo mais além, na caminhada que dela tem feito capital do Alto Barroso.
 
 
Agostinho Costa